Era uma vez



Considero um problema havermos sido criadas como princesas. Sempre esperando um príncipe, um ser salvador de nossas próprias angústias e que tem todas as respostas que nossa torta psique não consegue resolver porque inconscientemente estamos dependendo de um grande amor para viver. Dependemos sim, mas deveria ser de um grande amor próprio. Eu prefiro a personalidade da mulher guerreira, e não a da princesa.

A princesa é uma constante vítima do infortúnio amoroso. Desmedidamente incoerente ao amar seu homem, ela passa a vida carregando uma falsa bandeira feminista, negando que ele é a razão de seu viver, mas enfatizando ao mesmo tempo, em cada ação sua o quanto seria capaz de morrer sem ele. Vive pra ele. Seu círculo de amizades é o dele. Sua programação do final de semana também. As viagens, o que conhecerão, tudo o que for mais conveniente a ele. Aprende a conceder reclamando, mas concede. Fica chata porque reclama toda hora. E concede. Reclamar se torna uma válvula de escape pra convivência corriqueira. Ele sai, vive, realiza projetos, tem objetivos isolados dos dela. Ela o espera, acomodada em sua torre de resignação e certeza. Porque ele perambula, vive novamente e continua realizando seus projetos, mas volta de vez em quando para ver se a princesa continua em posição impassível e ela está, inclusive ela tem certeza que é dona dele e de seus pensamentos, por seu retorno. Para evitar intensas discussões do que não vai bem, nem entram no mérito da questão. Príncipes e princesas não sabem, simplesmente, como é o sabor doce da reconciliação depois da briga passada a limpo. Eles ignoram desentendimentos, certos de que assim, colaboram para o seu amor durar. E envenenam, a cada dia, o cavalinho branco cansado de suportar o conto de fadas, descobrindo que ele não existe como eles imaginavam.

Deveríamos ter sido criadas como guerreiras, escutando histórias sem “felizes para sempre” obrigatórios ao fim da linha. Como guerreiras que não se vitimam ao discutir a relação. De espada na cintura, pra não esquecer que deve lutar para enfrentar as barreiras do relacionamento. Deve lembrar que o relacionamento verdadeiro não será linear. Na linha muito reta há um desgaste paulatino. A linha bamba sim, sempre com altos e baixos é que se torna maleável a seguir. Os guerreiros têm contrapontos a debater, sempre. Não acham que a estagnação resulta de um equilíbrio, pelo contrário. A estática é sempre perigosa para eles. A guerreira sabe da sua imperfeição. Na medida em que acredita no por-enquanto bem feito, e não no infinito doentio, vê que precisa mais de si, então calça o escudo perto do coração. Seu guerreiro tampouco é perfeito. De muitas formas, existirá a possibilidade de se magoarem, e eles sabem disso, como seres imperfeitos. A guerreira não fecha os olhos, enfrenta as lágrimas, cai e afunda, mas escolhe a coragem como sua melhor amiga no final da jornada. E com a fronte adiante, ela segue mais forte.

Não é fácil ser a guerreira. Não é fácil ter coerência em meio à paixão arrebatadora que virou um morno amor. Ter coragem de assumir uma postura antagônica às histórias da carochinha. Relacionamento é batalhado no dia-a-dia. E se não der certo, por um monte de motivos acumulados, a guerreira sabe que continuará a lutar, por si própria.
Mas mais difícil ainda é ser princesa. Porque vai terminar seu relacionamento achando que acabou sua vida. Que perdeu tempo. Não aproveitou para crescer. Descrê completamente das pessoas. É injusta consigo achando que fora sempre justa com todos. Tudo por ter alimentado uma perspectiva infalível.

Como mulheres, qual será a estrada afora que elegeremos seguir?

Luiza Versamore



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