Antes que tudo se acabe!

Escutei tantas coisas sobre o fim do mundo na semana passada, que, inevitavelmente, me remeteram ao ano de 1995, a mais um dia quente de verão, dentro de uma sala de aula com mais trinta pré-adolescentes como eu, todos “fervendo” no momento mais infernal para um professor da quinta série, que era a entrada na sala de aula durante a troca de um período para o outro. É que nessa hora, toda a turma, já cansada de haver prestado atenção naquela “maravilhosa” aula de matemática onde letras começavam a aparecer no lugar de números (pois no meu antigo tempo escolar, a álgebra era recém inserida no nosso currículo nessa etapa), aproveitava pra recuperar o tempo perdido e começar a algazarra! Só que na sexta-feira, a troca do período de matemática era pela aula de português, ministrada por uma professora de olhar que variava do apático ao sombrio, que falava baixo demais pra uma pessoa normal, e uma cabeleira loira em corte Chanel, só que com raízes bem pretas a mostra. E ela era alta, muito alta, e de pés enormes, porque na hora de entregar as provas ou algum trabalho eu parava bem ao lado dela e como quem não quer nada, media o sapatão preto dela com meu pé de menina. Mas, como eu ia dizendo, sempre nesse dia a gente se acalmava na troca de períodos e esperava ela sentar e começar a fazer a chamada, todos comportados como anjinhos que um dia foram diabinhos traumatizados. Hoje fico pensando: “Essa tinha a manha!” Contarei agora como a dita cuja conseguiu de nós, pobres bobalhões dos anos 90, um respeito e uma atenção que depois de muito tempo só fui ver novamente cursando faculdade na Argentina.
No primeiro dia de aula do ano, volta das férias, ânimos enlouquecidos pela saudade do colégio, que na verdade era saudade dos colegas e da zoeira, aquela professora nova, começa a escrever um longo texto no quadro (isso era no tempo do giz, imagina!). Me diz agora, que criança de onze anos, em sã consciência, num dia de calor lindo lá fora, por mais que o uso da caneta agora estivesse liberado, iria querer escrever duas páginas inteirinhas, logo depois do almoço, pra exercitar a escrita? É claro que isso só podia resultar em bagunça! E começava sempre assim: um cochicho ali, uma borracha atirada lá, um “me empresta teu Liquid Paper” cá,(aliás, quem tinha corretivo naquela época era “o mais legal” da turma), e logo todos estavam dispersos, dentro de um mundo onde a Língua Portuguesa só servia mesmo para ser falada! Nesse grande momento de sublime agito, a nossa um pouco esquisita “profe”, para de escrever na lousa verde, se vira para o público ouriçado e espera. Depois de alguns vinte e muitos minutos de entusiasmada viagem ao mundo proibido da baderna em classe, a gente começava a “murchar”, silenciando aos poucos, vozezinhas morriam e todos se viravam para encarar aquela estranha criatura a nossa frente. Então, ela começou a falar bem devagar e baixo sobre o texto extenso escrito. Era uma história que se passava no futuro, onde as pessoas andavam em “mini-carros” individuais, com asas, que as levavam para todos os lados e onde tudo era futurista. Depois de ler tudo pra gente, ela começou a dizer: ”Por quê esse texto pode ser considerado uma fantasia do ser-humano?” Várias foram as respostas, uns diziam que era porque ficaria impossível inventar tantas “engenhocas”, outros opinavam que era porque o autor era muito imaginativo, outros concordavam com o autor de que era perfeitamente possível todas aquelas coisas virem a existir um dia. Então, a nossa gigante “pé-grande”, resolve nos explicar o porquê de nunca podermos ver as aeronaves aladas: “ É uma pena, mas isso tudo é uma grande fantasia do autor, já que o mundo não vai durar muito mesmo... (pausa para a grande revelação e uma quase transformação do rosto apático em tenebroso), porque o mundo vai acabar antes do final desse ano, então em 96 a gente já não existirá mais.” E, tal como uma grande profeta malvada, virou-se para o quadro e recomeçou a escrever, passando agora lições de gramática sobre o texto. Entendam, nós ainda não conhecíamos Internet naquela época, não sabíamos nem se o Google viria a existir um dia, e nosso banco de dados mais fiel ainda eram os adultos. Olhos marejados, Adriana, uma coleguinha que nunca falava nada, nem na hora do recreio, me olhava como que pedindo socorro. Alguns murmurios, medo, transtorno da fala. Escrevo um bilhetinho pra Ro, pensando que talvez ela possa me esclarecer se ouvi bem aquilo mesmo. E ainda faltava uma meia hora pra acabar a classe, e o pessoal em estado de choque, ninguém se manifestava, porque naquele momento a gente não estava de verdade querendo ter mais qualquer diálogo com essa “anunciante” do apocalipse! Acaba a aula... Ufa! Vou poder perguntar pra minha vó quando chegar em casa!
Os dias passaram e a gente passou a se comportar bem, na aula da “temida”, então, um pequeno grupo de meninas corajosas, fomos até ela e resolvemos perguntar a verdade. Posso jurar que o lábio direito dela ao nos responder com veemência: “Sim, acaba antes de 96!”, esboçou um leve sorrisinho de satisfação.
Assim, a gente passou a fazer planos pra concretizar ainda naquele ano: eu queria aprender aquela droga de aritmética, a Ro queria que eu fosse dormir na casa dela um fim de semana inteiro, a Adri a gente não sabe porque ela continuava calada. Hoje em dia o povo fica desesperado, faz anúncio, esquece que as avós que são mais sábias, já escutaram isso pelo menos desde antes de inventarem as redes sociais, e estão aí, aprendendo a mexer no PC! Porque até o mundo acabar (dizem que em 2012), pelo menos a gente aprendeu alguma coisa.
Luiza Versamore




A mão que move o mundo

Um dia acordei chorando, devia ter uns quatro anos, eu fui dormir angustiada porque meu primo Rafa tinha ganho de presente do tio Flavio, uma bicicleta do Batman no dia anterior, e meu vô Ary prometeu a mim que no dia seguinte ia trazer a minha. Foram duras vinte e quatro horas de espera. Nessa época a gente ainda morava todo mundo junto em um apartamento que até parecia grande para eu que era pequena (se bem que o meu boneco Fofão era do meu tamanho naquela época, e eu vi ele encolhendo com o passar dos anos...) mas o que eu estava dizendo, é que eu, por morar junto com o primo, via ele andando naquela megamáquina pelo corredor de parquet do apartamento, de rodinhas e tudo, e minha vontade de trancá-lo em algum armário e sequestrar a bici dele era tanta que não cabia em mim! Vovô então não teve outra saída, que a de trazer minha primeira bicicleta no dia seguinte.

Eu acordei na outra manhã, perguntando pela bicicleta tão esperada, e a resposta que ouvi foi que vovô não havia chegado em casa ainda, o que despertou em mim um choro temeroso e desacreditado. Já seria eu uma pequena criatura imediatista?

Chorei um pouquinho mais e não demorou muito, apareceu vô Ary no corredor em frente a porta do quarto, “Por quê ta chorando ‘bunecrinha’ do vô?”, e me mostrava o tão sonhado presente: era uma bicicletinha branca, com rodinhas azuis, tinha na parte da frente do guidão uma almofadinha emborrachada azul, banquinho da mesma cor. Demorou um pouquinho pra eu me recompor daquela manha toda e sair a dar um abraço apertado em vovô. Minha primeira bicicleta! Passaram-se dois minutos e eu já estava brincando de apostar corrida com o Rafa, no limitado espaço da sala.

Interessante como ao longo da vida, coisas que a gente queria muito e muito, já não compensam a mesma emoção que tínhamos ao almejá-las. Com as bicicletas, foi diferente. Eu fui crescendo e as mesmas foram sendo substituídas por outras maiores, eu lembro quando eu consegui andar sem as rodinhas! Indescritível sensação de que você finalmente aprendeu! Não depende mais de uma mão no banquinho pra te dar segurança. Agora, é só com você mesmo. Depois, quando já pode começar a andar nas maiores, sente que o mundo é só seu! E na vida, acho que é assim também. Só que tem muita coisa que a gente quer e, depois de um tempo, enjoa. E claro, não só no plano material. Eu, por exemplo, com treze se minha vó tivesse deixado eu já teria ido pra “balada” a tempos! Eu colocava música e me arrumava toda, e ficava, (põe maluca nisso), dançando no meu quarto, “fingindo” que tava na “night”! Hoje, sair pra dançar já não é uma coisa que me tira de casa todos os finais de semana, definitivamente.

Posso fazer uma lista de coisas que um dia fizeram eu me empolgar: teatro, vender Avon, coleção de “tazos”, bichos de pelúcia, gravador de “toca-fitas”, aprender italiano, “frisar” o cabelo, enrolar caixinhas de fósforo com papel de presente pra montar casinhas, criar códigos para escrever coisas secretas, fazer jornalismo, montar bijuterias, patinar de “roller”, tocar violão, fazer bolo sem ser de caixinha, comer salada sem frescura, pular carnaval, aprender a contar piada, fazer limpeza de pele toda semana, e mais um montão de outras coisas, que não passaram de tentativas, algumas nem isso. Simplesmente, tudo era só uma grande onda, que passou, mas, andar de bicicleta, não posso descrever o quanto eu ainda quero.

Na vida, o sopro inicial aos nossos desejos só pode ser impulsionado pela mão de quem nos ama realmente. Pode ser na sensibilidade do vô Ary em ver minha carinha de “pidona” querendo a bicicleta, ou na generosidade de meus pais ao ajudarem a me formar na faculdade.  Mas a vontade de seguir pedalando, e desbravar o caminho, pertencerá sempre a mim. As rodinhas, serão meus amigos. O caminho, trilho em frente. Motivos? Não me faltam.

Luiza Versamore


    PS! Gente, este post está atrasado porque ontem o Blogger estava fora do ar, o que me deixou triste, não por não poder haver publicado antes o texto, mas por somente hoje eu ter ficado sabendo que o Geraldo de Lima, do Blog Memorial de Outono não irá mais postar seus lindos e profundos textos! Desejo a você, querido amigo blogueiro, toda a felicidade que trazes ao ato de escrever. E nunca esqueça que “Escrever é viver!” Anseio que possas voltar logo, portanto não vou me despedir, a você meu sincero: até mais! "Cuide-se bem, cuide-se sempre!"

Mais selinhos!

Gente, eu de novo! Os selinhos nao param de chegar! Ganhei um selinho lindo da Luana, do Blog Infinito de Ser, olha so:

Tambem ganhei outro do PapoBacana, muito lindo:
Obrigada mais uma vez Jel! Respondendo as regrinhas deste selo:
1.Repassar a 5 blogs:
1. Infinito de Ser
 2. Musica que marcou: Como é grande o meu amor por você
3.Cinco livros que nunca vai esquecer:
    1.O Mundo de Sofia
    2. A Corrente do Bem
    3. A Arte da Vida
    4.Memorias Postumas de Bras Cubas
    5.O Velho e o Mar
 4. Por que acha que ganhou o selo: talvez porque os romances da vida sejam todos candidatos a ganhar um Oscar!

Passei la no Blog PapoBacana e vi um selinho que a Jel ganhou: Selinho de Qualidade do Blog comentariocriticoo.blogspot.com. Ela indicou o selinho pro Romance também e estou postando aqui! Obrigada Jel! Tem algumas regrinhas pra quem quiser postar, devem responder ao questionario:

Nome: Luiza Versamore
Uma música: Onde ir- Vanessa da Mata
10 coisas sobre mim:
1. Amo escrever e ler
2. Sinto saudades de casa, do meu Brasil, do meu RS
3. Sou sonhadora
4. Gosto de cozinhar
5. Me pergunto o porque da vida, dos dias, das pessoas
6. Adoro o silencio
7. Música velha MPB
8. Sou tímida
9. Quero fazer Pediatria
10. Adoro maquiagem
Humor: alto-astral, mas reservada
Uma cor: Rosa
Como prefere viajar: acompanhada do Pelele, de carro e som rolando...
Um seriado: The Big Bang Theory
Frase mais dita por você: Deus é pai!
O que achou do selo: Adorei, é um lindo presente!
Blogs para os quais eu indico esse selinho:

      2. Memorial de Outono
       3.Vibre Alma
        4.Viver é aprender
        5. Ser, Estar e Viver!
         6.Meditations In An Emergency
        7.Atacrazy
      8. O diario de Jhoy Naninha
      9.Infinito de Ser
     10. Cotidiamo
     11. Entre um Drinque e Outro
    12. Frauafu=)
    13. Poetizar
    14.Toca-dos-Gatos
   15.http://marcelodraw.blogspot.com/





Com palavras não sei dizer...



 Cheguei em casa naquele final da manhã, estava irritada por alguma coisa que não lembro (tamanha importância que não tinha), estava com quinze anos, dramaticidade total, passei pela cozinha onde minha avo Maria começava a fazer o almoço, escutei um carinhoso “Oi, filha!”, e no meu egocentrismo desvairado de adolescente, olhei-a de cara fechada e entrei em meu quarto. Ora, como não estivera o começo do dia de acordo com minha vontade, porque haveria eu de ser carinhosa também?Aliás, aquela música tocando no rádio, enquanto a panela do feijão chiava, aromatizando o ambiente de um sabor de almoço em família, me desagradara profundamente. Por que escutar música se o meu mundo carecia de um silêncio profundo onde eu pudesse pôr meus pensamentos em ordem? Nesse balde imenso de egoísmo, assomei de novo à porta da cozinha e desdenhei das canções, e, irritada, perguntei a minha avó se ela nunca se cansava de passar as manhãs escutando aquele “péssimo” repertório! Ela me olhou, séria, e abaixou o volume do rádio. Então, como a pessoa que melhor me conhecia, começou a indagar o porquê de eu estar me comportando daquele jeito. O fato, é que eu acabei contando a ela os meus motivos, e depois de um breve choro magoado, e uma rápida conversa consoladora, quem me jogou um “balde”, foi ela! Um banho de otimismo, de males espantados! Envergonhada, elevei de novo o botão do volume, e aquela música instrumental de almoço teve outro significado.

Em meus dias de menina, não me recordo sequer um dia em que estive sem escutar com ela alguma embalada melodia do “Rei”. Duas memórias relevantes: a primeira eram das “siestas”... Eu tinha uns cinco anos, e o cochilo depois do almoço, e da limpeza da cozinha, é claro, pois vó Maria não dorme enquanto ainda tem “serviço”, (até hoje!), era ninado por Roberto Carlos! Que coisa mais antiga aquela música, a maioria não vai lembrar, mas tudo bem, dizia:

 
“Hoje eu tive um sonho que foi o mais bonito

Que eu sonhei em toda a minha vida

Sonhei que todo mundo vivia preocupado

Tentando encontrar uma saída

Quando em minha porta alguém tocou

Sem que ela se abrisse ele entrou

E era algo tão divino, luz em forma de menino

Que uma canção me ensinou... La, La, La, La, La...”



Eu nunca dormia nadinha nessas “siestas”, ela me dava uns desenhos pra pintar e eu ficava quietinha, no chão ao lado da cama, entretida colorindo, enquanto ela tirava a soneca bem merecida depois de haver feito o melhor feijão do mundo. Na verdade, eu estava prestando super atenção na letra da música, fazendo uma viagem em minha cabeça, visualizando aquele menino entrando na casa do Roberto Carlos, que no meu pensamento, estaria tocando violão no sofá da sala, o menino simpático sorrindo pra ele, uma luz ofuscando a visão do cantor, maravilhado com aquela visita... esse pensamento ainda hoje me vem à memoria quando a escuto , em alguma sessão “sarcófago” na madrugada, é claro. Eu me sinto como se estivesse lá naquele quarto ainda, usando escondidinha um papel-carbono que ela usava pra fazer seus artesanatos.

Outra do Roberto que marcou (que era mais da vó Maria, que do Rei a essa altura da vida), foi “Como é grande o meu amor por você”.

Um dia aconteceu que a “tia” da segunda série avisou em aula que a turma toda iria cantar essa letra no Dia das Mães, como homenagem. Lá chegava a tia Beth no Salão de Atos do Colégio, com um toca-fitas gigante (que coisa velha) e começava a cantoria. E eu ainda hoje tenho uma foto deste dia! Na parte da estrofe a gente botava a mãozinha no coração e depois oferecia o “amor por você” para as mães. A foto até teria saído bonita não fosse um “porta-moeda” (de pulso!) cor amarelo-fosforescente-restart com fecho preto que estava super na moda, e uma calça fusô vermelha-restart de lã (credo!) que pra ficar mais “delicadinha” ainda, tinha um “big” elástico branco encaixando no pé, pra não subir durante alguma correria no recreio. Mas o que importa é que vó Maria estava lá, toda faceira, meus olhinhos encontraram os dela quando saí daquele palco de madeira ao seu encontro, ela muito emocionada pelo evento.

Fiquei lembrando disso tudo, todos os dias eu saindo pra ir à escola, voltando pra casa, dando um beijo na hora de dormir, ela deitadinha já com o rádio bem baixinho tocando no ouvido... Temos como repertório de nossa convivência um milhão de músicas, das quais com certeza milhares são de Roberto, outras milhares mais antigas, de vários artistas (daí que eu tenho uma fixação por discos antigos), e todas nos fazem recordar uma à outra. Aliás, enquanto estou aqui escrevendo, ela esta lá, espantando algum pensamento das saudades que isso tudo nos deixou, certamente ouvindo alguma coisa que gravei no PC, e que ela ouve, ainda com alguma hesitação, pois não confia em CDs que não são originais...

Coisas de vó Maria: o feijão mais gostoso, a preocupação mais sincera, a mania de musicar a casa, e oferecer-me as tintas com as quais fui aquarelando pelo mundo, um pouco fosforescentes de vez em quando, mas iluminadas como sempre.



Luiza Versamore










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