Plantei amigos, colhi saudades...

Por incrível que pareça, a saudade vem. Morei na Argentina durante quase cinco anos. Era uma cidade do interior, na região nordeste. Clima fatigante, exaustivamente quente. Estudei   durante esse tempo, e, proporcionalmente ao que aprendi na universidade, foi meu aprendizado na vida. Um aprendizado muito intenso, dividido entre o desafio psicológico e o baque que é encontrar-se em um meio de confluência de todas as personalidades diferentes possíveis. Mas também um aprendizado valioso quando, (posso escrever isso com todo o sentimento de fraternidade possível), lá colhi algumas das melhores pessoas com quem convivi em minha vida. Na Universidade onde estudei, também estudavam, além de argentinos obviamente, muitos brasileiros. Conheci pessoas divertidas. Depressivas. Dramáticas. Buscadoras de objetivos. Perdidas. Encontradas. Cada um veio forjado de um lugar diferente.  Durante meus contatos com esse grande mundo amistoso, muitas vezes só fui perceber quem não era legal depois de muita indignação engolida ao tentar aceitar a realidade. Houveram várias pessoas que deixaram sua marca negativa quando passaram por mim, em alguma convivência infeliz. Mas, destes, não me faz falta falar. Assim, que vou deixá-los no mesmíssimo lugar de onde nunca sairão: na pasta de lições do passado.
A saudade, de mansinho chega, tão presente se faz ao lembrar dos momentos ao lado de pessoas que valeram a pena. Na verdade até as ruins valeram a pena, posto que com elas também aprendi que a face da maldade está a espreita. Se nossa vida é um aprendizado, valeu ter passado por todas essas vivências. Quando cheguei lá, estava com vinte e um anos, não conhecia ninguém e meu espanhol era “Hola, mi nombre es Luiza”. Com o tempo fiz amizades que sei, vão durar a vida inteira. Não fiz muitas, porque nunca fui de ter quantidades “sem-fim” de amigos. Eu fiz poucas. E as que mantenho até hoje, em franco contato, apesar da distância, são excelentes e admiráveis. Muitos conhecidos queridos. Mas, amigos, estes, é o coração quem escolhe, e não os horários da faculdade. Saudade, porque nas épocas difíceis dos estudos, eu tinha ao meu lado fiéis escudeiras. Na Argentina, ainda hoje, existe um sistema de aprendizagem muito rígido em algumas universidades. Existe um sistema de estudo intenso, onde o aluno é  frequentemente avaliado em todas as modalidades possíveis de provas, sejam teóricas, práticas e orais. Assim, a seleção vai acontecendo. Ao contrário do que acontece no Brasil, não há vestibular. A pessoa entra na faculdade depois de fazer três a seis meses de um “curso introdutório”. O processo seletivo vai acontecendo aos poucos, durante a faculdade, pois são poucos os que chegam ao final dela.
Mas eu havia falado que “colhi” amigos... a escolha foi assim. Amigos de verdade vêm sendo cultivados bem antes. Ainda não sei bem o que é que determinou o primeiro contato, talvez tenha sido sim os horários de aula, mas, e depois, pra continuar a amizade? Olhei atrás, nas vivências de cada um e busquei alguma razão. Foram talhados na família, não que tenham tido famílias perfeitas como as dos romances de novela, não, eu me refiro ao que eles puderam entender da novela de suas próprias vidas, sem isso de certinho, mas com um grande ponto de vista sobre os valores que deveriam respeitar. Até mesmo porque cabe a cada um avaliar o que viveu e tentar fazer ou não de outro jeito. Vi também que não era só o sonho da formatura. Os verdadeiros gostavam de sonhar junto. Se ajudavam, não só na faculdade, mas em tudo. Quantos relacionamentos começaram e acabaram sob a asa de uma amiga? Quantas notas ruins foram choradas e reclamadas e reestudadas com um amigo, noites adentro e um barril de  café pra animar? Quantas notas boas foram bebemoradas e bailadas com esses amigos? Quanta falta de grana, me-empresta-tua-blusa, te-pago-um-lanche, devolvo-mês-que-vem, divido-o-livro, no banco sem fins lucrativos da amizade? Quanta mão dando força antes de entrar pra falar com o professor cara a cara, aquelas mil páginas? O tempo passava assim, e a gente naquela pressa de aprovar, aprovar, aprovar, não se dava conta que já estava escrevendo uma história de saudade. Meus amigos foram cultivados muito antes de estarem ao meu lado. Eles souberam me enxergar no meio da multidão e vieram em busca de algo que também os agradou. Nós conseguimos, no meio daquele mar angustiante de tentar se entender, levar adiante as mesmas perspectivas, não esconder a dor de ser de cada um. Meus amigos verdadeiros foram leais antes e depois. Antes de virem e me encontrarem, porque necessitavam tanto quanto eu, serem assim. Não tentaram me agradar por algum interesse, porque eu não tinha mais nada do que bom-humor e um pouquinho (mas só um pouquinho) de introspecção, que era mais uma carinha fechada, antes de sentir mais confiança, do que antipatia.  Eles me confortaram nas minhas angústias e desesperanças e, se comentaram de mim para outros, foi para marcar alguma qualidade.
Por isso digo que são poucos. Afinal, coube a mim perceber quem entraria em minha vida para me ajudar a trilhar o caminho com bravura, e quem viria para tentar vendar meus olhos perante as pedras.
Meus amigos verdadeiros tiveram consciência, tolerância e persistência comigo, e tomara que eu também tenha podido ter para com eles. Não era coisa de momento. Cada um já tinha na bagagem um espírito forte e fraterno, e mesmo nos desentendimentos, as pazes puderam vir sem deixar cicatriz posterior, porque a intenção de cada um era segurar a barra, não se esquivar de estar ao lado.
Hoje, a saudade aqui, tão presente quanto a lembrança. A gente já sabia que um dia ia ser assim, que ela chegaria como uma já prometida amiga chega na estação do tempo. Chegaria trazendo aquele mesmo sentimento nos olhos que se encontravam no meio do tumulto de um saguão da faculdade, buscando uma notícia, um sorriso, uma explicação, um lugar no mundo, um lugar no outro.
Tenho poucos e bons amigos. Não importa o que a distância possa tentar separar. Junto a eles eu aprendi a ser melhor, e isso é estar perto também.

Tenho bons e poucos amigos.

E não preciso de mais nada.

“Aos queridos amigos que deixei, e que deixaram em mim uma inesquecível história.”

Luiza Versamore

12 comentários:

Mariane Magno disse...

Linda tem selinho para você no meu blog. dá lá um olhadinha.
Beijos

Mariane Magno disse...

Parece incrível que nossos melhores amigos estão longe de nós.
Sofro isso também :/
sei como ée, ter amigos distantes, mas o amor só cresce, as boa lembranças..
Lindo seu poost *-*

Luiza Versamore disse...

Ja colei seu selinho! Cola o meu la, o codigo esta na caixinha na side bar.
Beijos!!!
Luiza

Suelen Muniz disse...

lindo post,amizade verdadeira é isso mesmo!!!!!=]

Anônimo disse...

Olá, Luiza... Muito belo o seu relato sobre amizades... Percebo que você é uma pessoa que as valoriza muitíssimo, como realmente deve ser... Um grande abraço... Obrigado pelo carinho lá no meu espaço. Cuide-se bem, cuide-se sempre...

Luiza Versamore disse...

Obrigada Su e Geraldo! Hoje me percato que talvez eu deveria ter dito tudo isso a eles, que eles tem um inestimavel valor pra mim! Que bom `e poder escrever esse sentimento nobre e motivador, que `e a amizade!
Beijos aos dois!

Ana Rafiq disse...

Olá Luiza... tb deixei gdes amigos lá naquela terrinha que me ensinou mtas coisas.... digo sempre que lá deixei não só conhecidos, mas amigos IRMÃOS que levarei no coração eternamente...
Abraços.... Ana Rafiq!

Luiza Versamore disse...

Ana!
Entendemos perfeitamente nao?
Rsrsrs,
Beijos!
Luiza

Andressa disse...

ei flor,achei seu blo uma graça to seguindo dê uma passada no meu quando puder.Bjão

Mariane Magno disse...

Tem outro selinho pra você no meu blog. BEEIJOS linda *-*

PapoBacana disse...

simplismente lindo seu texto..existem amigos que sao mais chegados que irmaos..

abraços..

Larinha disse...

Querida... ler esse post depois de tê-los aqui, ainda que foram somente uns dias, fez me ver e reafirmar o quão importante és pra mim, sempre terás esse coração a seu favor! Teu blog está maravilhoso, tens esse dom nato da escrita que eu admiro tanto! Parabéns, muito sucesso... Te amo!

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