Seres “Bem” Visíveis



Não sei, eu tenho um problema com a efusão das pessoas. Talvez seja uma fragmentação do TOC* que tenta vir à tona quando me deparo com certas situações. Talvez seja o meu jeito de ser. De qualquer forma, é ruim pensar assim de vez em quando. Trazendo o leitor ao assunto: admiro muito as pessoas sinceras e espontâneas, mas quando o exagero toma conta das atitudes delas, eu começo a ficar aflita. É sério. Eu acho lindo quando as pessoas são felizes de forma silenciosa, mas fico constrangida em meio ao escândalo. Talvez seja exatamente por isso que já tento olhar a situação com outros olhos -“mal necessário para evoluir, Luiza”, eu penso! Tive épocas em minha vida que aprontei fiascos. Sim, eu fui uma adolescente. E pra uma ex-adolescente admitir que “viveu”, realmente ela tem que ter “vivido”. É, parece que hoje a coisa tá saindo devagar, me perdoem, é meu castigo por ficar tanto tempo longe de vocês. Mas vocês se lembram do que dizia o Poetinha? Não pode ter vivido realmente, quem não amou. E na adolescência... hum! Um estado permanente de amor e raiva me perturbava muito. E não estou falando apenas de namorados, porque, como já mencionei em algum texto aqui no Blog, minha adolescência não orbitou exclusivamente em torno deste tema. Mas, como eu ia falando, algumas vezes passei por dilemas que tiveram toda aquela dramaticidade que mereciam no momento. Tudo, desde a primeira nota ruim, a primeira espinha (de muitas, argh!), ou a infeliz ideia de matar aula e encontrar a professora no corredor da escola dali a dois segundos (mas estou perdoada porque era Ensino Religioso e o único ensino que eles davam era dizer que tudo, até matar aula, era pecado...), e mais coisas que tiveram o seu grau de escândalo permitido para tal fase. Mas, hoje, não sei explicar porque me incomoda tanto essa simpatia exagerada de alguns seres-humanos ao redor, e mais precisamente, dentro do meu próprio círculo de vivência.

Só para exemplificar e não ficar parecendo que enlouqueci, vou descrever dois fatos que ocorreram nestes dias tão esperados das férias, que chegaram finalmente.

O primeiro aconteceu no prédio onde moramos eu e meu namorado, há um ano. Aconteceu que resolvemos fazer uma jantinha de despedida para alguns amigos, antes de viajarmos de volta ao Brasil, e também porque era o último dia da novela das oito e todos estavam ansiosos para ver o Léo morrer. Tá, quem não acompanha novela deve pensar no Léo, como o pior vilão dos últimos tempos, psicopata “grau mil”, que tinha a mãe mais “fora da casinha” que se pode ter. Continuando: estávamos no clima mais descontraído do mundo, televisão no último volume, que resultou em conversa mais alta ainda... Mancada total! Deu um tempo depois do final da novela e o interfone tocou, era o porteiro pedindo silêncio. Até aí tudo bem, a gente desligou a TV e começou a cochichar pra bem geral da vizinhança. Passam três dias, eu desço com minha vizinha do andar de cima, que é minha amiga também, quando me deparo com a síndica, vulgo Gargamel, (que é pra gente poder falar em voz não tão alta, dela, dentro do prédio com os outros vizinhos). Acontece que Gargamel, no fundo, é querido sim. Nós nos afeiçoamos a ele, porque é uma pessoa prestativa e carismática. Só que às vezes ele tem ataques de efusão que destoam do nosso ambiente na “Vila tranquila” em que nós, diminutos seres não-azuis, vivemos.

Nem bem acabo de cumprimentá-la, já vem a primeira flechada, especulando o porquê de nossa barulhenta reunião, fazendo ressalvas na frente do porteiro (que ria, impiedosamente, tal qual Cruel), do quanto o som estava alto, que as pessoas todas do prédio ligaram para ela reclamando e pedindo explicações, que ouviu não sei quem dizer isso e aquilo, que todo o andar (que tem metade dos apartamentos vazios), bateu à sua porta, indignado (e por que não, na nossa?), perguntou se era aniversário de alguém, quantos estavam lá dentro de casa, emendou o assunto do final da novela, depois voltou atrás dizendo que “maravilhoso que éramos pessoas tãããããão educadas e prontamente baixamos o volume quando solicitado”, e o pessoal passando pela gente e rindo da situação..., e ela pegando minha mão, emocionada, dizendo que os brasileiros não sabem falar baixo, mas isso não é nenhum defeito... nessa hora até queria ser um serzinho qualquer que coubesse dentro de um vaso de folhagem pra sair de fininho.

A outra situação ocorreu há dois dias, dentro do avião que vinha para Porto Alegre. Estou eu quase cochilando quando o comandante avisa que dentro de alguns segundos íamos enfrentar uma pequena área de turbulência. Desperto, e Rafa me olha, dizendo: tem um parafuso meio solto ali. Ele começa a me indicar, através do vidro da janelinha, o tal parafuso em alguma parte da asa, que eu realmente não vi. Então, ignorando qualquer possibilidade de estarmos compartindo este ambiente com alguém fóbico, Rafa simplesmente se vira e pergunta ao moço sentado no banco atrás do nosso, se ele estava enxergando também que o tal parafuso estava “meio solto”. Percebo o silêncio acabrunhado do viajante, e, aperto o braço de Rafael no momento em que quase todos ali nos olham, em meio a turbulência previamente anunciada. Entre dentes eu digo para ele parar de se manifestar. Meio insistente, ele percebe que realmente não era a hora de reparar nisso e ri. Bom, do Rafa tenho listas enormes de ataques efusivos, mas que servem mais de anedotas depois que passam, do que de críticas. Igual, ele sabe que sou avessa ao escândalo e muitas vezes me pego passando vergonha alheia. Como já disse, talvez seja só meu jeito de ser que não se enquadra muito no que as pessoas possam ver como normal.

Afinal de contas, normal ou não, até descobrirmos o que isso quer dizer, é melhor aceitar que nem sempre o que nos desagrada vem para o mal. Pelo menos, não na maioria das vezes...

Luiza Versamore

*TOC= Transtorno Obsessivo-Compulsivo


6 comentários:

Mariane Magno disse...

Oi linda, saudades de você e suas postagens...

Bom compartilho com você essa vergonha, eu me envergonho até com quem eu não conheço e tem esses ataques... Essas explosões repentinas das pessoas.

Minhas mãe é assim, acho que é isso enquanto eu tento evitar confusão, ataques de iras e desentendimentos entre as pessoa, minha mãe é explosiva e uma coisa boba, sem necessidade de escândalo ela faz com que seja preciso..

Bom espero que as pessoas percebam o quanto nos faz passar vergonha com cosias bobas.. Como eu sempre digo: "Se começar eu fingo que nem conheço."
KKKKKKKKKKKKKKKKKK'

Beijos linda, adorei a postagem ;**

Mari disse...

Nossa estava com saudades das usas postagens lindas... tanto tempo hein..
Nossa eu passo vergonha até com pessoas que não conheço rs imagine com quem conheço.. minha irmã é dessas elevada a 5 nossa tem hora que penso que ela foi trocada na maternidade rs mais enfim temos que convive
beijo
Bom final de semana.
http://marifriend.blogspot.com/

PapoBacana disse...

Que saudades Luiza..
como vc está? espero qu esteja bem..


quanto ao post..eu acho esternar exageradamente um sentimento torna-o o falso...também não gosto dessas pessoas escandalosas..

muitas saudades viu..beijo

Luiza Versamore disse...

Obrigada queridas pelos comentários!
Grandes beijos a todas!

Suelen Muniz disse...

Ah,também não gosto de barraco,escândalo,confusão e nada desse tipo envolvendo meu nome,inclusive desde sempre adoto uma postura quieta,discreta,prefiro mais observar do que comentar certas coisas,até porque as vezes fico com medo de ser deselegante ao reparar alguém,mas acho mesmo que as pessoas tem que ser um pouco mais contidas,poxa,educação não faz mal a ninguém e discrição também não,rsrs
Abração Lu,=)

Luiza Versamore disse...

Obrigada pelo comentário Suu!
Volte sempre!
Beijos!

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