Papai Noel

Tenho uma notícia sobre a solidão que você ainda não sabe... Em um fragmento minúsculo de tempo o aperto no peito é tanto que posso sentir a mão da sufocadora em minha garganta. E ela se torna cada vez mais sólida, e eu fico estagnada, esperando que ela se solidifique cada vez mais, sentindo que ela está virando pedra ao me tirar um pouco o ar neste segundo infinito e inexplicável.

Daí me sinto criança novamente. E presto atenção... Com certeza! É isso! A época do ano em que estou! Uma época que só pode ser da menina, da sonhadora, na pureza de um dezembro.

Naqueles anos, aquelas eram as semanas favoritas de TODO o ano... um tempo vermelho, verde e de passas de uva “roubadas” de um furinho no panetone.

Que coisa absurda, na calada solidão da distância, me dou conta que existiu magia sim. Hoje ficam alegando que o papai Noel é figura capitalista pra ajudar a transformar o Natal em uma “coisa” comercial. Tá, como criatura adulta eu tenho que aceitar que sim. Mas o papai Noel que preencheu minha infância de esperança e brilho, era o papai Noel do livrinho de capa azul que contava a historinha do Beto, um menino que queria ganhar de presente no Natal, a visita do papai Noel, porque, era o Beto quem queria dar um presente a ele. Então, pra resumir, no final do livro, o Beto dá ao papai Noel um par de meias vermelhas, tricotadas pela avó de Beto, e papai Noel fica mega agradecido porque as suas já estavam furadas. A moral no final da historinha era que “o papai Noel cuidava tanto dos presentes das pessoas que não tinha tempo pra cuidar dele mesmo”. Eu explico, porque sei que ficou meio embaçado.

O que quero dizer é que, apesar da “coisa capitalista”, meu sonho era encontrar papai Noel pra agradecer. Hoje, se ele fosse de verdade, eu iria agradecer aquela noite, na casa de vovó, onde ao pé do pinheiro cheio de luzinhas, eu ficava sentada com meu primo adivinhando o que tinha embaixo dos embrulhos. Agradeceria pela vó que tinha ido buscar o galho de pinheiro na casa do vizinho pra que eu tivesse uma árvore com aquele cheirinho de mato gostoso exalando pela sala. Agradeceria pelo momento encabulado de ter que engolir o choro na hora em que as bolinhas de natal “quebravam” na minha mão (sim, bolinhas de natal eram caríssimas e feitas de algo parecido com vidro). Agradeceria porque vi vô Ary com seu bigode grisalho, cabelo lambido pra trás, colocando as cadeiras no pátio pra esperar o pessoal. Também agradeceria porque tinha recém chegado de Alegrete e visto meus avós Cristina e Alcione, e ela tinha deixado eu dormir uma noite inteira com uma caixinha de música com a qual eu “infernizei” meu titio Lucho, fazendo ela tocar bem na hora que ele ia pegar no sono! (Ele, certamente, não nutre essa saudade!)

Agradeceria sim ao papai Noel, essa noite de felicidade sem igual, em que minha mãe (ainda) não era a “gourmet” da nossa ceia, mas fazia uns sanduichinhos deliciosos de mostarda pra gente beliscar. 

Mas o momento mais lindo de todos, que eu agradeceria de verdade verdadeira, seria aquele momento dos abraços. Aquele encontro de olhares risonhos, quando chegava a meia-noite, e os tios e tias vinham levantar a gente no colo, onde existia também neles uma esperança de que tudo seria melhor, e que tudo valeria a pena. Era um pensamento tristonho de saber que papai vivia longe, e eu não o veria, mas afinal, era Natal. Era um momento grandioso demais pra durar tão pouco, mas, se durasse mais além do que deveria, não seria hoje com certeza, essa lembrança apertada, saudosa, forte.

Então eu cresci. E cada integrante de nossa família cresceu também. E sei que todos dentro dela têm coisas pra agradecer.
Talvez a vida de cada um tenha tomado rumos que naquela época não se podia prever. Vivemos muita coisa, longe ou perto. A gente se reencontrou, viveu, chorou e riu como nunca. A gente trocou os melhores presentes, que são aqueles que damos sem perceber aos que amamos: uma lembrança pura.

Então, crescemos. E, pela primeira vez na vida, por essas coisas que são como as bolinhas de natal daquele tempo antigo, lindas e delicadas, e, que a gente aperta demais e se machuca, eu estou aqui, morando bem longe.

Mas tem uma coisa: a solidão pode vir e me apertar o quanto ela quiser. Não acredito nela não. Eu acredito em papai Noel.

Luiza Versamore


2 comentários:

Suelen Muniz disse...

Lu querida,
Passando pra agradecer pela amizade e por sempre lembrar de mim,
Espero que 2012 seja generoso com vc,te dando tudo o que precisa pra ser feliz.
Paz,amor,saúde,alegria,fé,sempre.
Abração e feliz ano novo,=)

Luiza Versamore disse...

Obrigada SUU! Te desejo o mesmo querida! Felicidades sempre!
Beijos!

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