O bebê mais risonho do mundo. Uma menina doce com
cara de sorriso. Ela sorri toda, desde pequenina. Quando sorri, o sol se
derrama dentro da gente.
Eram sete da manhã quando Gabi abriu os pequenos
olhinhos verdes, ainda no berço. Piscou e imediatamente iluminou o quarto.
Acordei com sua luz abrilhantando o ambiente. A espiei sorrateiramente. Um riso
desdentado apareceu. Eu ri de volta. Minha irmã mais nova era o bebezão que eu
queria ter pra brincar quando pequena. Era a boneca que emitia sons,
barulhinhos engraçados. Era a boneca com cheirinho de xampu infantil. Minha
boneca. Eu era magrela, bracinhos de grilo. Não podia pegá-la no colo sem
supervisão de adulto. Mas podia colocar meu braço fino por entre as arestas do
berço para tocar no seu bracinho gordo. E ela ria, querendo pegar.
Posso dizer que um obstáculo tentou se interpor em
nossa estrada da vida: morar em estados distantes. Ver a ela e Camila nas
férias era tão almejado quanto ver nosso pai. A distância é uma coisa injusta.
É um momento de saudade do que poderia ter sido.
Só que, quase inacreditavelmente, também existe um
lado justo- a distância confere valor de trailer de cinema em nossa vida, no
momento em que a saudade se desfaz e nós nos reencontramos com quem amamos. Não
havia tempo pra eu brigar, nem discutir, nem me emburrar com as irmãs. Eu as
queria proteger, fazer penteados, admirar o sotaque. Era oportunidade de
conhecê-las de novo, cada ano em uma nova fase da vida.
E, de repente, é numa batida de coração que tudo
acontece. Por conta de um defeito congênito, aos dezoito anos Gabi passou por
uma cirurgia cardíaca. Que suportou sem se vitimar. Que superou mostrando a
todos que pior defeito tem quem não tem um Coração como o dela.
Minha irmã mais
nova faz aniversário hoje, e eu me pego a refletir (didaticamente, como a
futura professora):
1- Que o
tempo só volta na nossa memória, por isso devemos fazer com que ele valha a
pena;
2- Que
minha tentativa de ficar loira aos doze anos, pra ter o cabelo de Gabi,
fracassou pavorosamente;
3- Que não
é porque Gabi na minha cabeça é ainda um bebê, que nunca vai se apaixonar, e
namorar, e viver;
4- Que
minhas três irmãs me ensinam todos os dias o significado de um amor
incondicional.
Se eu pudesse fazer um trailer, Gabi, nosso filme
seria o seguinte: a distância física entre nós seria seu bercinho de dormir.
Com minha mão eu tentaria lhe alcançar. Com seu sorriso, você me alcançaria.
Luiza Versamore
Um comentário:
Que seja infinito, o olhar acolhedor, o abraço amigo! O laço de irmã!
Que transborde todo o amor, que reluza toda a luz e que brotem flores na nossa caminhada de irmãs! Que a vida dê para todos, a oportunidade de conhecer esse amor e tantos outros como forma sintonia infinita daqueles que tem coração tão lindo quanto os nossos! Que só cresça, que permaneça pra sempre esse amor!
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