Caren


Obrigada por ter me perdoado.

Conheci muita gente em minha vida. Mas as melhores pessoas talvez tenham sido as que eu menos entendi. Deve ser porque, quando gostei de alguém de verdade, em quem confiei e me confidenciei, em determinado momento, quis também que a pessoa agisse como eu. Quantos de nós somos exatamente assim, e honestamente, sem querer?

Piaget* já fazia menção em seus estudos sobre o desenvolvimento cognitivo e psicológico da criança e também do adolescente, a essa tendência marcada do egocentrismo e seu papel fundamental na vida humana. Ele descreveu o Egocentrismo Adolescente como necessário ao processo adaptativo do indivíduo na sociedade. Um processo que, digamos, em algumas pessoas dura para além da idade adulta (mas não é esse o caso).

O que quero dizer é que, a mais ou menos quatorze anos atrás, eu errei feio com uma amiga, que era para comigo puro carinho e cumplicidade. E, simplesmente, eu a tirei de minha vida. Arranquei dela uma oportunidade de falar, a julguei, dei valor a mesquinharias, coisas que não importavam, por eu ser egoísta. Sem lembrar, que, em comum, também tínhamos o gosto da leitura, e, muitas vezes, ela me explicava sobre o sentido do altruísmo. Foi aí que cheguei em Piaget. Foi aí que não me enxerguei como eu realmente era. Que loucura é essa na psique humana, onde a gente pensa que vê, mas está cego? E, então, eu me deprimi muito, mas não pedi desculpas. Não vou elucidar ao leitor o porquê do que me fez fechar a cara para Caren, pois essa é uma carta de reconciliação. Uma carta de agradecimento. Uma carta sem mágoa.

Acontece que há mais ou menos um ano, encontrei-a em uma rede social. Queria pedir desculpas a ela, mas não tinha ideia se isso funcionaria. Afinal, vivenciamos e vemos todos os dias, essa incapacidade humana, de não perdoar de coração as falhas do seu semelhante, o que custamos a pôr em prática na vida cotidiana. Agora a moda é amarrar em um poste nossa própria desgraça, e açoitá-la como nos tempos de escravidão. Assim não teremos de lidar com o fato de que o errado da nossa sociedade é sua própria hipocrisia.

Numa época em que eu sabia que podia voar e ser quem eu quisesse, conheci uma amiga chamada Caren. Tínhamos muita coisa em comum. E deixei todo o comum de lado, para me apegar a pequenas coisas.

Mas ela não foi pequena como eu. Ela me concedeu suas desculpas. Concedeu-me um sorriso ao ler que (nas palavras dela)- “as pessoas se afastam por coisas bobas”...

Mas a melhor coisa que eu li foi: “O importante é que temos maturidade para não transformar este afastamento em mágoa e, sim, em uma surpresa agradável.”

Obrigada Caren. A grata surpresa de minha vida é saber que a pessoa que você é, eu quero me tornar.

Luiza Versamore


**O nome real de Caren foi preservado.




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